Texto Original : site 100% Skate
Essa matéria saiu originalmente na revista da 100%skate em fevereiro de 2010, na edição 143 sobre 10 coisas que qualquer skatista brasileiro deveria saber sobre o Vale do Anhangabaú, local de extrema importância para o skate nacional mas que agora teve uma parte já destruída para uma revitalização do local.
10 Coisas que você deveria saber sobre o Vale do Anhangabaú
1 – Rio do Mau Espírito
O termo tupi “Anhangabaú” tem várias origens e significados consideráveis, mas todas convergem para “rio ou água do mau espírito”. O rio que atravessava o Vale recebeu esse nome provavelmente por conta da ocorrência de algum malefício contra os índios, cometido pelos bandeirantes nas proximidades. Atualmente, as águas correm debaixo dos degraus que recebem skatistas diariamente.
2 – O tio do Carabetti ajudou
No começo da década de 90, o Vale passou por uma reforma que modificou a paisagem e o transformou no mais novo pico de skate de São Paulo. Por coincidência, um dos engenheiros responsáveis, o Sr. carlos Augusto Carabetti, é tio de um ícone da geração dos anos 90, Haroldo Carabetti.
3 – A primeira sessão no Vale
O skate no centro de São Paulo já era uma realidade e, durante as obras da reforma, de cima do viaduto do Chá já era possível ver as arquibancadas cercadas por tapumes. Reza a lenda que, um belo dia, após a saída das maquinas e funcionários, Marcelo BArnero, Alexandre ZikkZira, Daniel Trigo, Ricardo Pinguim, Edu Fernandes e David Toledo retiraram uma das placas de madeirite e exploraram pela primeira vez as bordas do Vale.
4 – Breve proibição
Na virada do século, o Bank Of Boston assumiu temporariamente a manutenção e conservação dos degraus. Durante alguns meses, enorme seguranças, trajando ternos pretos, ficavam postados em diversos pontos, mesmo debaixo de sol intenso, impedindo qualquer tentativa de sessão no local. Foi a única época que o skate foi proibido no Anhangabaú.
5 – Vale tudo
Alguns eventos e campeonatos de skate usaram o Vale do Anhangabaú como palco. Nos de street, pequenas e provisórias alterações foram realizadas, com o uso de obstáculos de madeira, como nos casos do DC King of SP, o Global Assault e o Circuito Universitário de 2009. Curiosamente, durante a história, o Vale recebeu mais campeonatos de vertical do que de street.
6 – Visitas ilustres
Como todo pico mundialmente famoso, foi visitado por skatistas de diversos países do globo terrestre, entre anônimos e famosos. Alguns famosos: Mike Vallely, Brian Anderson, Eric Koston, Rick McCranck, Reese Forbes, Levi Brown, Pj Ladd, Paul Rodriguez, Danny Montoya, além dos finados Keenan Milton e Harold Hunter. Outra figura marcante atende pelo nome de Tamer, canadense que veio ao Brasil exclusivamente para conhecer e andar no Vale.
7 – Debutando na gringa
A primeira aparição do Vale do Anhangabaú em um vídeo de skate gringo foi na parte de Rodrigo Teixeira no 411 Video Magazine vol. 41, de 2000, em uma seção chamada “Wheels of Fortune” (relembre).
8 – No Berrics
Em 2009 o paulista JP Dantas, conhecido como Anjinho, foi o vencedor do DC Pj Ladd’s Project Granite, ação onde o skatista americano mandava uma manobra e a mesma deveria ser novamente executada, filmada e postada na internet através do site do The Berrics. Anjinho escolheu o Vale do Anhangabaú para executar um nollie heelflip fs tailslide com perfeição e foi o grande vencedor (veja a manobra aqui).
9 – Crowd histórico
Como todo pico clássico, o Vale também tem seus dias de crowd. Mas o maior crowd de todos os tempos não foi para andar de skate: no dia 16 de abril de 1984, o maior comício público da história brasileira usou o espaço entre os viadutos do Chá e da Santa Ifigênia para pedir “Diretas Já”, exigindo o direito dos brasileiros de escolher seu presidente (relembre aqui).
10 – Algumas manobras inesquecíveis
O gap grande (que agora tem uma árvore na frente) pulado de Ollie por Alexandre Vianna; Hardflip de Eliana Sosco no gap menor; 360 hardheelflip de Robson reco no canteiro de grama; switch hardflip to tailslide de Rodrigo TX na borda alta; Formiguinha tem várias inesquecíveis, mas a menção não vai para seus combos quilométricos e sim para seu ollie vindo da pedra portuguesa e passando a grade; Bruno Aguero com seu caballerial fakie tail manual; switch 360 flip de Fernando Java pulando o canteiro; Ari Neto que, partindo da borda baixa, passou a borda do meio emendando um flip nosegrind na borda de cima; switch backside tailslide do Anjinho arrancando pro chão; bs noseslide na borda descendo, do bob Burnquist, ignorando os dois trancos (veja aqui).
Texto: Charles Franco
Fotos: Fernando Martins