MARCOS VAN BASTEN ( @mkzsvan) é fotógrafo, vídeo maker e skatista local de Barbacena- MG. Suas fotos tem personalidade e retrata o dia a dia em preto e branco do seu local.
Para Amee Skate Arte é uma satisfação imensa poder colaborar com os artistas / fotógrafos da região mineira porque acreditamos na inclusão do skate & arte de diversas regiões e estilos. E o Esquilo ( Marcos) é um skatista com um estilo e personalidade única onde inspira e fomenta a arte em seu local.
Seu olhar minimalístico e sofisticado para a foto resultou na nova collab da Amee : um shape limpo e representativo.
Entrevista por João Lucas Teixeira (@joaolucasrt)
Música de @meninsk, Gabriel Menicucci – MG
Quem é o Marcos Van Basten?
Meu nome é Marcos Van, meu apelido é Esquilo, sou nascido aqui em Barbacena – MG, sou fotógrafo e videomaker, sou skatista há 15 anos e agora tive essa oportunidade de fazer o collab com a Amee.
Você é conhecido na internet por sua abordagem não-convencional do skate e utilizar a cidade forma diferente. O que te inspira nessa visão e utilização diferente da cidade?
Acho que por eu morar no interior e em cidades maiores as coisas acontecerem mais rápido, a forma de registrar isso é produzir com o que tem, soltar material na nossa cidade e ir viajando pra fora, filmando, tirando foto com pessoas novas e ir fazendo essas conexões, sem deixar de produzir em casa. Por isso eu comecei a filmar bastante aqui, pois apesar de ser pequeno tem muita coisa pra produzir e a ideia é essa. Por menor que seja a cidade sempre tem algo pra produzir, sempre tem alguma construção nova, um pico novo, nunca não vai ter algo pra usar, a parada é enxergar o que vai ser produzido e correr atrás.
Nesses 15 anos de skate aqui em Barbacena você deve ter vivido muita coisa, a cidade se transformou, teve muita gente que andou de skate aqui e não anda mais, muita gente que continuou andando, como você vê essas mudanças no skate em Barbacena? Como foi andar de skate aqui?
Eu notei que de quando eu comecei a andar pra hoje em dia, eu me influenciei pelas pessoas que estavam próximas de mim andando de skate. Quando eu comecei foi por causa das pessoas que já andavam na época e em comparação com agora, tinha muito mais informação específica de skate disponível e muito mais gente começou a andar por isso. Quando eu comecei a ver os vídeos, as revistas foi através dessas pessoas que já andavam e me apresentaram. A partir daí eu fui tomando mais gosto em fazer, querendo estar junto fazendo acontecer aqui na cidade e a galera que foi chegando depois foi somando e mais pessoas começaram a produzir. Pela cidade ser do interior e ser uma cidade pequena, sem estrutura/pista, se quisesse andar tinha que botar a mão na massa, construir os obstáculos. Por mais que tenha a pista da Rua Bahia (mini ramp tradicional de Barbacena) e o espaço no Colégio Salesiano (abre só aos finais de semana) quem quer produzir tem que colocar a cara na rua e fazer o corre de filmar, tirar uma foto por conta própria, sem esperar.
Barbacena já tinha produtores de conteúdo de skate quando você começou, João Paulo (JP Souza) é um exemplo, como foi ter essas pessoas produzindo ao seu lado, como você vê o trabalho dessas pessoas, na fotografia e no vídeo, e o que isso significou para sua produção hoje em dia?
O João Paulo foi primordial pro que eu carrego no meu trabalho hoje em dia né? Desde que eu comecei a andar, e eu comecei a andar de skate por causa dele, por ele ser a pessoa que estava mais perto de mim naquela época. Não só ele como o Moita (Marcelo Fidélis) e outras pessoas que já faziam vários trabalhos aqui, que foram de total influência pros dias de hoje. A vó do JP era vizinha da minha vó e como eu sempre via ele de skate, a vontade de estar andando junto com eles era muito grande, eu achava muito daora. Depois de um tempo ele começou a fotografar com a gente, ele clicava, mostrava as fotos no papel. Ficava muito daora, ver a sua foto assim, no papel, na sua mão. A partir daí começamos a filmar junto. A primeira câmera tinha uma telinha pequenininha, a gente fazia uns vídeos com ela, depois compramos uma parecida com a dele, filmamos ainda mais e depois ele comprou uma câmera pra fazer as fotos e começou a fotografar sério, e hoje virou o trabalho dele. Quando ele começou a fotografar skate, eu ainda não tinha acesso à câmera e a esse material. Depois de um tempo eu consegui comprar a minha primeira câmera e os amigos sempre influenciam né? A você achar uma linguagem para os seus dias. E até outras pessoas que gostam mesmo, que às vezes começam a fazer algo aqui em Barbacena por causa de alguma coisa que você fez anteriormente, tipo um vídeo por exemplo, que incentiva as pessoas a correrem atrás e fazerem também. Por ser uma cidade pequena, com mais pessoas fazendo coisas novas a cena vai expandindo, através de um trabalho vindo daqui, de pessoas que começaram a fazer por causa de outras.
Você acha que hoje, o seu trabalho de fotografia de rua, retratando pessoas em seus seres cotidianos é uma forma de reconhecer os esforços delas também, assim como foi no skate, demonstrar a luta diária dessas pessoas que você fotografa?
A fotografia de rua me ensinou a enxergar muita coisa nas pessoas, no dia-a-dia. Quando eu comecei a fotografar o cotidiano da rua, aqui e em outras cidades, você vê que tem uma rotina e por mais que você passe várias vezes no mesmo lugar, sempre tem algo diferente acontecendo. As pessoas estão sempre circulando, tudo acontece muito rápido e tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e depois que você passa a ver as coisas dessa forma, as pessoas e a cidade estão todas ligadas mas às vezes você passa perto de uma pessoa e eles nem notam que passou uma alguém sabe? Tem uma casa, um prédio, as pessoas que convivem ali estão ligadas, mas você não repara no todo, isso tudo encaixado. Eu comecei a observar fotografando, um ambiente, um fundo e uma pessoa junto com aquilo, tem todo um encaixe, tudo é único quando é clicado, uma foto, um vídeo, tudo em movimento. Eu comecei a me encantar cada vez mais sabe? Aqui é interior, então você vê muita gente do interior, vem pra cidade fazer alguma coisa com um visual bem interiorano, isso encaixado no meio urbano é muito representativo. Eu comecei a fazer retrato porque expressa quem as pessoas são, as características, os traços das pessoas do interior. Hoje em dia eu saio na rua e já vou observando e é um movimento natural, às vezes uma pessoa passa do meu lado e eu penso “nossa, queria muito fotografar essa pessoa!”. Eu posso não ter uma câmera mas eu tenho o celular, se eu sei que vai dar uma foto bonita eu já clico mesmo assim. Se fosse só uma foto do lugar solto é bonito, mas o todo chama muita mais atenção pra mim, assim como essa ligação das pessoas com a rua. Foi encantador aqui e todas as influências que eu tive nessa jornada. Depois de um tempo você percebe como essas influências de antigamente são presentes no dia-a-dia, pessoas que fotografam a rua, que fotografam skate, etc. Mesmo que você só foque em uma abordagem, você vê várias coisas diferentes em outras abordagens e consegue unir essas referências, trazer pros seus dias e ir adaptando as linguagens.
A foto que usou no seu modelo de shape lançado agora pela Amee é quase que um retrato, um momento que você capturou. Qual a história por trás desse momento?
A história dessa foto é a seguinte: a gente tava lá na Rua Bahia (praça com mini ramp tradicional de Barbacena) andando de skate e estava acontecendo um evento chamado CoreAção, com arte, música, dança e batalha de rima; como no bairro existem muitas crianças e elas gostam muito de skate, esse menino me pediu meu skate emprestado e ficou andando, de boa, gostando total assim. Ele tava adorando estar lá andando, no meio da galera do skate. Eu achei muito daora o jeito que ele tá assim sabe? Sentindo o skate, do jeito que a gente sente, de estar andando, se divertindo. Eu cliquei, revelei a foto e ela ficou guardada. Depois de um tempo a Amee me contatou e me ofereceu essa possibilidade de fazer um trabalho junto. A gente não tinha pensado em ser uma fotografia, tínhamos conversado pra ser um trampo a mão, depois de várias ideias a gente não tinha chegado em algo concreto. Aí eu pensei: porque que a gente não faz algo ligado à marca e a fotografia misturado? Pra encaixar o conceito da marca nessa foto. Eu apresentei a foto e a Tat (designer, dona da Amee) me deu a ideia de misturar o logo da marca (um coração estilizado) com a foto e ela fez desse jeito. Eu gostei muito, a ligação, o coração, o sentimento. Como se fosse a primeira vez que ele tivesse andando de skate e talvez tenha sido a primeira vez que ele andou num skate de verdade; e é isso sabe? Como o skate traz pras pessoas um sentimento, a diversão de estar ali andando, sem pensar em mais nada. Trouxe pro menino o sentimento de liberdade que o skate traz, de estar ali andando e pra mim de ter clicado o sentimento dele. Isso pra mim foi muito gratificante, agradeço a Tat, a Amee, de coração mesmo, de ter me dado a oportunidade de fazer essa somatória. Obrigado mesmo! <3
Depois de ter feito todos esses trabalhos, ter fotografado tanto tempo, estar andando de skate e trampando com skate com algo mais consolidado, o que você tá vendo pro futuro nessa caminhada?
Eu to vendo que hoje em dia tem muita gente que eu não sabia que colocou a cara na rua, que fez a gente conhecer seus trabalhos porque está fazendo o seu e fazendo chegar na gente. Tem muito skatista próximo da gente que é artista, que faz foto, que faz vídeo, se move sabe? Isso que eu quero ver cada vez mais, nossos amigos, várias pessoas se influenciando em arte, em fotografia, em música. Quero que peguem isso tudo e tragam para nós, pra conhecermos várias coisas novas, absorver e com isso as pessoas também vão se informando cada vez mais, se inspirando em outras. Pra nós é a melhor coisa, se influenciar nos nossos amigos, nas pessoas que tão fazendo. É isso que eu quero, quero ver arte, quero ver muita gente fazendo. Acho que pela informação estar chegando mais fácil pra gente, conseguimos buscar referências, pesquisar sobre as coisas; é só querer. Se você quiser que a arte esteja próxima de você, cê vai absorver da melhor forma. A arte é feita pra fazer bem pra gente, nossos dias, tudo. Por isso que eu digo que a fotografia, o vídeo, a música se ligados a tudo nos seus dias, você vai viver até enxergando de outra forma, vai andar da rua e talvez reparar em algo que nunca reparou. Algo que tava ali a tanto tempo e você nunca enxergou.
Pra finalizar, o que você gostaria de dizer pra pessoas que estão tomando esse rumo da arte, que estão descobrindo suas trajetórias?
Um conselho que eu daria é que todo mundo tem tudo pra fazer com o que tem nas mãos, equipamento é o de menos. Você consegue fazer uma fotografia, um vídeo com o seu celular por exemplo. O que não pode é desistir, tem que estar sempre se esforçando e querendo fazer. Se você acreditar em você, se você gosta daquilo que está fazendo e acredita que aquilo é bom, segue seu olhar naquilo e vai fazendo, fazendo, fazendo. Ouça o que as pessoas que são importantes pra você tem a dizer, você pode se basear nisso pra te ajudar a melhorar cada vez mais. Com isso cada dia mais você vai conseguindo se encaixar e achar sua linguagem. Não desista de você, acredite no seu trabalho e corre atrás! Se você acreditar em você, naturalmente seu trabalho vai chegar em outras pessoas e elas vão se identificar com seu trabalho. O mais importante não é o equipamento, mas o sentimento e a mensagem que você quer passar e isso que vai importar no final das contas.
Muito obrigado pela oportunidade de estar aqui, parabéns pelo seu trabalho, por estar produzindo foto e vídeo e apoiando as pessoas daqui de Barbacena e de outros lugares. Continue assim que vai dar tudo certo pra você!
Obrigado você por colar aqui, eu gostaria de agradecer a Amee, agradecer as marcas que acreditam e apostam nos skatistas e artistas, que valorizam o trabalho dessas pessoas. Que veem a importância disso pra marca e pro skate como um todo. Marcas que te dão espaço, pra te ouvir, assim como a Amee fez comigo. Eu tive a ideia junto com ela e o espaço que ela deu pra mim, pro Flávio Grão (outro artista convidado dessa série de shapes da marca), de acreditar sabe? Às vezes você tem a ideia, você quer passar, mas não tem quem te ouça, até você chegar nessas pessoas é muito difícil, pra gente que mora no interior sem você conhecer em pessoa. Eu só tenho a agradecer a Amee, essas marcas e pessoas que me deram essa oportunidade, com certeza vai ficar registrado pro resto da vida.
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