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A mineira Cachorro Molhado Crew lança seu novo vídeo “CHRIS e GREG numa quarta-feira de cinzas” . Filmado numa quarta-feira de carnaval, o vídeo marca uma nova fase na produção do grupo e ainda constrói uma atmosfera reflexiva e melancólica condizente com nossos tempos atuais. Fizemos uma entrevista com as pessoas envolvidas no projeto, confira: 

 

Texto por: João Lucas Teixeira (@joaolucasrt @woskatearte)

 

J- É difícil entrevistar amigos, melhores amigos é ainda mais difícil. Eu sentei com Max Souza, músico multi-instrumentista e um dos skatistas do vídeo, para conversar nosso último projeto e reencontrar um amigo numa tarde chuvosa, perfeita pra ocasião. Com guitarra na mão e sorriso no rosto, falamos do projeto, da nossa trajetória nesses tempo pré-pandemia, sobre o como a arte está se transformando na pandemia e no o que isso significa para nós skatistas-artistas.

PARA QUEM NÃO ASSISTIU: 

 

J- Pra começar, quem é o Max Souza? A pessoa, o músico e o skatista.

 

M- Quem sou eu? Legal essa pergunta. No início, antes do skate, aquela coisa de infância pra adolescência eu era o Maxwell, um músico dedicado, desde muleque eu já tocava bateria, guitarra na igreja em que minha família frequentava. Daí veio essa febre de ver os caras andando de skate na calçada de casa, o “rolimã que não parecia rolimã”. Quando eu penso no início eu penso nisso, na pré-adolescência quando a mente foi começando a abrir, quando comecei a tomar uma noção de mundo, abri os olhos pros detalhes. Depois disso eu saí da igreja, vi um skate na papelaria, quase que naquela ideia de montar uma bateria (risos) Eu estudei, fiz minhas coisas e consegui comprar o skate. A partir daí as coisas tomaram um rumo, eu conheci a galera, comecei a andar de skate. Nesse momento eu fui morar muito perto da pista de skate, e tinha um movimento grande de skate na minha rua, então eu sempre tava andando. Eu tinha uma amigo que morava perto da minha casa, a gente sempre jogava muito tony hawk e acabamos juntando pra andar. Esse meu amigo nunca me deixava sem skate pra andar e partir daí o skate começou pra mim. Fui arrumando uns trampos, comprando peças e fui entrando nesse mundo, depois que eu descobri o freestyle, influenciado pelos grandes mestres, eu fui achando essa liberdade pra me expressar no skate. Não era sobre manobras, mas essa visão diferente, de ser algo natural, prazeroso.  Isso me influenciou muito na música para continuar tocando e experimentando.

 

VIDEO SKATE ARTE - “CHRIS e GREG numa quarta-feira de cinzas”
Max gravou a música do vídeo no mesmo dia da gravação das manobras na área de sua casa antes de sair pra filmar. Foto: João Lucas Teixeira

 

J – De onde vem o CHRIS e GREG que dá nome ao vídeo?

 

M- Eu não lembro os detalhes, mas um dia eu trombei com um cara com uma bike laranja empinando a bike no meio da rua. Eu nem sei se ele sabia o que era skate e eu pra lá e pra cá assim, de repente aconteceu esse encontro. Aí foi eu na casa dele, ele aqui em casa, a gente trocava uns games como se fosse figurinha… e ele me aparece com um skate. O rolê era constante e um dia minha mãe apareceu com essa coisa do Chris e Greg aqui em casa. Nisso já tem quase uns 8 anos que já tem esse Chris e Greg (risos). A gente ia pra aula de skate, pra andar de skate, saí da aula passava em casa pra almoçar e já saia pra andar de skate de novo. E olha nessa época um nem gostava de ir pra escola. (risos)

 

VIDEO SKATE ARTE - “CHRIS e GREG numa quarta-feira de cinzas”
O Greg (João Lucas Teixeira) pelas ruas de Rio Pomba – MG. Foto: Max Souza

J- Eu (Greg) e sua mãe já tínhamos até um combinado, que cê precisava de companhia pra poder ir pra aula e eu precisava de companhia pra andar de skate na escola. (risos) saudades dessa época. A partir daí foi um momento que a gente parou e começou a começou a pensar que a gente podia fazer conteúdo de skate de qualidade e acho que dessa fagulha foi nascendo a ideia tantos desses artista que viemos nos tornar tanto do que hoje viria ser a crew (Cachorro Molhado). Como você vê essa sua relação do seu skate com a sua música?

 

Max – Essa época foi importante pra mim porque foi quando eu comecei a levar essa coisa da música mais sério, eram 3 coisas, ir pra escola, andar de skate e tocar. Essa rotina foi me acompanhando, fui tocando mais guitarra, tirando as músicas do Guitar Hero, aquelas playlist de música de vídeo de skate que cê me passou e sempre intercalando rolê e tocar. Eu encontrei as pessoas (da CM) e fui criando amizades, que até hoje existem e foram se fortalecendo. Nessa mesma época eu fui convidado para tocar num show e isso foi crescendo no que virou essa vida de músico profissional. Eu estar tocando pras pessoas foi ficando confortável, essa coisa de apresentar era como se fosse a sala de casa e o skate me ajudou muito nisso, as metas que eu trazia do skate me ajudavam a lidar com os desafios da música.

A persistência, essa sensação de liberdade. Eu não me vejo nessa timeline da minha vida agora sem o skate. Isso me possibilitou muitas coisas.

 

J – Como foi o processo de gravação do CHRIS e GREG?

 

O dia da gravação não tava propício pra andar muito ou tocar muito. Eu tinha feito 8 ou 9 shows no carnaval (Max é Baterista numa banda atualmente) e com uma mudança pra fazer no dia seguinte não ia dar pra andar de skate freneticamente (risos). Você passou lá em casa, gravamos a música e saímos de lá pra andar. Não foi a  vontade de gravar skate ou de tocar que fez isso acontecer, foi a vontade que a gente tava sentindo na hora, de se conectar, de aproveitar o momento que a gente tinha e registrar isso. É uma forma que a gente encontrou de compartilhar esse sentimento daquele dia. Essa dia ganhou vida. Um dia cinza com gotas d’água caindo nas poça. Ganhou muita vida.

 

J- É um contraste tão grande do que naquela época e até o que a gente tava vivendo pouco antes da pandemia, essa liberdade, esse estar fora de casa. Como cê tá lidando com esse afastamento social e quarentena?

 

M- Eu sempre tive essa coisa de me inspirar nos acontecimentos do dia-a-dia para tocar, a música acompanha a vida. Nessa fase que a gente tá vivendo agora parece que deu uma travada nisso, até porque a gente tem que passar ver a coisa com outros olhos ou as vezes por uma tela ou só fragmentos de algo. Parece que minha mente ficou mais sensível para a estética da coisa, as sensações. Sempre pensava coisas em blocos, saía do rolê e ia pra casa pensando numa música, chegava e mcasa e tocava a música. Hoje em dia, como não tem esse fluxo do rolê, eu vejo as coisas e vejo formas, imagens, filosofia e tento entender o que aquilo quer dizer. Outro dia eu saí aqui no portão de casa e olhei pro céu, eu nunca tinha visto tanta pipa no céu. Era uma coisa linda, o céu azulzinho e aquele tanto de pipa colorida, na hora eu imaginei uma capa de álbum. Confesso que estou meio distante de estudar técnicas e práticas novas porque não estou tendo shows para tocar, mas estou pesquisando músicas, artistas e vendo essa experiência geral assim, a partir de quem está escutando e não tocando. Foi uma troca de perspectiva assim.

 

VIDEO SKATE ARTE - “CHRIS e GREG numa quarta-feira de cinzas”
Um momento lindo e sincero nas gravações do vídeo Foto: João Lucas Teixeira

J – Você acha que nós como artista talvez teríamos de usar esse tempo para estudar coisas fora de sua área, pra explorar mais e unir esse momento que estamos fechados em casa a uma pesquisa sobre como nos tornar artistas e pessoas melhores para com a sociedade?

 

M – Na minha visão, como artista, estamos sempre num meio termo, um muro, de sair da sua zona de conforto para a criação e ao mesmo tempo nos sentindo estagnados. Eu to passando pela fase da estagnação. Fico meio perdido pra produzir, o que vou estudar me sentindo com muito tempo ou até sem tempo, talvez porque a gente recebe muita informação o tempo todo. Isso é o lado ruim, agora o lado bom, é que talvez com essas coisas o artista se sinta mais inspirado pra fazer mais coisas, estudar mais coisas, se informar mais sobre o que está fazendo ou sobre os detalhes do que está fazendo. Acho que vamos ficar mais sensíveis um ao outro e que isso pode ajudar no futuro. A arte é sobre quem vê, não só sobre quem faz. Na arte tudo importa, assim como no mundo, as pessoas importam cada uma delas e precisamos ter isso na cabeça pra montar um futuro melhor. Nosso vídeo mesmo foi uma coisa que eu achei que traduz essa sensação, dessa atenção dos detalhes pra mostrar um universo, e aquele dia ganhou vida, registrado pra sempre. Talvez seja uma boa hora pra eu te mandar um texto que uma amiga minha me mandou sobre o nosso último vídeo logo depois de ter assistido:

 

“Mas dá uma melancolia na gente essa música, faz a gente ficar olhando vocês andando de skate como se fosse a nossa vida passando. Os momentos bons, os erros, os acertos; assim como vocês com seus movimentos no skate. Quando tem hora que quase dão de cara com um carro kkk parece quando a gente dá de cara com uma situação ruim mas aí vocês saem sorrindo depois. Quando vocês acertam, vocês sorriem o dobro. Talvez fique essa lição sobre sorrir, sempre sorrir…” – Jôvania Alves 

 

J- Com essa linda declaração terminamos a entrevista. Muito obrigado Jôvania e Max pelas palavras, obrigado Amee Skate pelo espaço pra falar e expandir esse universo do Chris e Greg. Sigam a CM @_cachorromolhado e o Max Souza @maxsouza_dr no insta para acompanhar a crew e o trabalho do artista!

Até a próxima galera, fiquem em casa e lavem as mãos!

Mais post do João : Collab Amee x Grão

#skatearte

 

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